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Casa de Knut - Feitor de Drakkares Empty Casa de Knut - Feitor de Drakkares

Seg Jun 15, 2020 6:19 pm
Três luas passaram desde que Sihtric fora arrastado pelas correntezas até o Fúria dos Mares e desde então, pouco descanso teve.

Nas noites de lua mansa, quando o céu era dos trapaceiros, dos feiticeiros ou dos juízes (conforme Steapa lhe ensinara a ler a lua), o jovem frísio passara a viver no vilarejo com os demais parentes da tribo e percebe que a vida não era muito diferente da de sua terra natal.. Eram fazendeiros, comerciantes, exploradores e ferreiros, gente simples como ele conhecia, apesar de muitos passarem aquela estranha sensação que Sihtric sentia em sua mãe e em Olhos-que-Riem, assim como em outros Garou e que ele aprendera ser uma espécie de tino instintivo para a pureza da linhagem da Tribo. Nestes dias, por não ter muito o que oferecer além de seu ofício, foi aceito como ajudante pelo artífice de drakkares chamado Knut. Recebera um teto que ele dividia com a família do homem e refeições quentes, até mesmo o vinho de mel que sua esposa fermentava vez ou outra.  Não havia luxos, mas a palha era seca e as filhas do feitor (eram 6 de idades entre 16 e 2) eram amigáveis... na casa de Knut viviam também sua irmã  mais jovem Aoda com a filha recém nascida e o pai da criança, que Sihtric virá a conhecer apenas no segundo mês de sua estadia, é um homem chamado Danne, ou como os Garous o conheciam, Garras-Sangrentas. Por dividir a lua com Sihtric, é ele quem virá à dividir o treinamento do filhote com Olhos-que-Riem. Diferente de Steapa, é de riso complicado apesar de fácil, de humor mórbido e pretenso à violência de palavras e atos quando irritado...e parecia que tudo e todos eram capazes de irritá-lo.

Nas noites quando a lua era dos contadores de história, Sihtric era levado ao Hov onde era ensinado sobre sua Tribo e sobre os Garou, além das lendas do lugar, mas nada ouvira sobre seu antepassado nem descobrira nada sobre sua missão além do que ele lhe falara. Era como se ele nunca tivesse existido e desde aquela noite no barco, ele não voltara a assombrar seus sonhos. Nas noites de lua guerreira, Sihtric ia com Danne à caça: as vezes algum animal, as vezes algum espírito na Umbra, muitas vezes os pertences de algum outro membro do Caern e nas vezes em que eram descobertos, aprendia a lutar com garras e dentes mas sempre até o primeiro sangue e nunca ate a morte. Descobrira como funcionava o lugar, conhecera os guardas da floresta e aprendeu a viver na Sociedade que sua mãe lhe escondera e a vida ia simples até então... Mas uma hora, ele sabia, seria enviado para provar seu valor e conquistar seu nome na fogueira da Assembleia e conheceria então a Dragonesa do Mar e as entranhas da Montanha onde ficava o coração do Hov, onde nunca pudera entrar até então.

Na primeira noite sem luar,do terceiro mês, Garras-Sangrentas espera até depois do crepúsculo para descer da montanha e vai direto até a casa de seu cunhado, onde chega cheirando a vinho de mel, com um sorriso fácil no rosto.

- Ei garoto... você está pronto? Hoje é seu grande dia pelo visto...


Última edição por Vossa Sataneza em Ter Jun 16, 2020 1:11 pm, editado 1 vez(es)
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Seg Jun 15, 2020 9:47 pm
Ao pisar em Stavanger pela primeira vez se lembrava de ter pensado que as fiandeiras ainda não estavam prontas para cortarem os fios de seu destino. Estava correto. Algumas luas haviam passado desde que havia sido apresentado ao Jarl e até então estava vivendo com aquele povo, exercendo seu ofício, e aprendendo mais sobre a vida como um homem lobo. Agora não os chamava mais assim, os chamava de Garou e conhecia a influência dos augúrios, a importância dos espíritos, o peso da linhagem, a força de suas garras e as histórias do sangue Fenris. Havia conhecido o mundo que sua mãe havia lhe escondido durante todo aquele tempo, e também começa a entender os motivos que a levaram a esconder tudo aquilo.

“A vida era mais simples antes da fúria..”

Gostava de pensar. O peso do leme de um bom barco em suas mãos, a agua salgada salpicando o ar sempre que a quilha se choca contra o mar, o jubilo de sentir a madeira cortando as ondas, e depois uma bebida forte para tirar o sal da garganta, e depois uma cama ou uma puta sem piolhos se for possível achar alguma, e quase nunca era, caso em que ao menos gastava menos moedas. Era simples, era o que precisava. Ao invés disso agora aprendia o que era a vida como um Garou e era o único que se lembrava de algo sobre história que se perdeu, ou ao menos achava que era. O pior era perceber que também gostava de ouvir as histórias de Olhos que Riem e mais ainda de ver a assombrosa quantidade de hidromel que o bastardo era capaz de fazer desaparecer. Gostava de trabalhar os barcos com Knut e da quantidade de vezes consecutivas que ele conseguia praguejar sobre uma mesma corda mal traçada, do vinho de mel que sua mulher fazia, e mais ainda da disposição que suas filhas mais velhas tinham. Gostava até treinar com Danna, aquele bastardo que devia ter nascido do cú de um bode e tinha uma boca mais perversa que a de uma mulher que sangra, mas que entendia coisas que outros, de outros augúrios, nunca entenderiam. Gostava daquilo tanto quanto gostava de todo o resto, por mais que fosse estranho admitir, e  talvez por isso tivesse sido escolhido por Fenris. Mas uma hora, ele sabia, seria enviado para provar seu valor e conquistar seu nome na fogueira da Assembleia e conheceria então a Dragonesa do Mar e as entranhas da Montanha onde ficava o coração do Hov, onde nunca pudera entrar até então.

“E depois desse dia eu os farei lembrar do que nunca deveriam ter esquecido.”

Mas esse dia não era hoje. Hoje era uma noite sem lua, o tipo de noite que havia aprendido a gostar. Sihtric estava sentado do lado de fora da casa de Knut quando Danna, ou Garras-Sangrentas, havia resolvido aparecer. Cheirava a vinho e tinha um sorriso no rosto, mas naquela altura filhote já havia aprendido quão próxima a violência abjeta estava daquele sorriso.. ele definitivamente não era o tipo de homem que deveria ouvir que havia nascido do cú de um bode, embora provavelmente houvesse. Sihtric sorri enquanto responde:

- Quando você aparece com esse tipo de humor é porque alguém não vai acordar feliz amanhã, agora resta ver como diabos isso faz uma grande noite pra mim.

Se levanta, ajeita a faca no cinto mostrando que estava pronto, e complementa:

- Qual vai ser a de hoje?
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Ter Jun 16, 2020 1:29 pm
Danne sorri, de alguma forma se orgulhara do trabalho feito no garoto que conseguia ler as nuances de humor que compunham o destino dos outros. Era a marca de um bom rotagar e que diabos o levassem se Danne tivesse treinado um filhote incapaz de fazer isso.

- Você vai ser lançado ao mar hoje, garoto, mas vou deixar Fúria-da-Tempestade te explicar seu destino. Vamos subir a Montanha, então é bom que você pegue seja lá o que você achar útil e apresse esse seu rabo sujo porque o Jarl tem mais o que fazer além de ficar te esperando.

O Garou fala de forma displicente enquanto se encosta na parede da casa de seu cunhado, sem nem mesmo entrar para ver a esposa e filha. Cruza os braços e olha para o céu, aguardando que Sihtric se diga pronto.


Última edição por Vossa Sataneza em Qua Jun 17, 2020 7:22 pm, editado 1 vez(es)
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Qua Jun 17, 2020 7:11 pm
As palavras de Danna eram desinteressadas, quase como se negligenciassem o seu real significado, mas Sihtric havia entendido bem mais do que estava sendo dito. Naquela noite não caçariam animais, espíritos, bebidas ou moedas. Tampouco seria um mero passeio no mar para provar que o leme de um Drakkar era a extensão de seu braço direito, conforme as histórias que qualquer bêbado daquela vila já havia ouvido entre berros e cerveja derramada. Não, naquela noite o próprio Jarl queria descobrir o que o filhote nascido na noite sem luar era capaz de fazer.

“E ele vai descobrir.”

Sorri para Danna com um brilho astuto no olhar pois as palavras eram desnecessárias, havia chegado a hora de se provar e estava pronto para isso. Entra na casa de Knut e pede para uma de suas filhas que estava pelo caminho:

- Eu vi o resto de um queijo de cabra em algum lugar mais cedo, pega pra mim? Ninguém vai sentir falta, tá mais duro que coração de viúva velha.

Sem mais, segue para o local onde deixava seus parcos pertences. Não possuía quase nada além do que existia dentro de sua própria mente mas troca a camisa de tecido que usava durante o dia por uma de couro e pano, que deixava os braços sem cobertura mas que lhe dava maior liberdade de movimentos. Pega uma corda que havia recuperado do barco que o havia levado até Stavenger e a enrola antes de colocar numa surrada bolsa de couro, onde aloca também um cantil com agua doce e a fina manta de lã que usaria para dormir caso o tempo não colaborasse no mar. Ajeita sua faca na cintura e passa a alça da bolsa pelos ombros antes de fazer o caminho de volta e recolher o dito queijo com a filha do Cnut, que estava definitivamente tão duro quanto esperava mas que iria servir.

- Eu não sei como teu pai consegue ser amargo daquele jeito tendo uma filha doce assim.

Pisca para ela, sorri, e estava pronto. Se encontra com Garras-Sangrentas do lado de fora e apenas adiciona:

- Vamo, antes que o Jarl fique entediado demais e tenha tempo pra perceber que você acabou com o vinho de mel de toda Stavenger.

Se põe a seguir Garras Sangrentas tão logo ele se movimente e então pergunta como complemento após terem se afastado de outros ouvidos:

- Eu sei que você não vai pro mar, do contrario você teria se despedido. Eu vou partir sozinho ou vou ter que cuidar de quem quer que tenha a sorte de compartilhar meu destino?
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Qua Jun 17, 2020 7:46 pm
- Espero que eu não pareça com sua mãe ou com sua ama de leite para ter que cuidar de você ou dar respostas para suas perguntas. Detestaria ter meu rosto em uma vagabunda frísia qualquer, mas não posso garantir que já não tenha espirrado minha semente dentro de alguma. Malditas sejam.

Danne responde com calma, se desencostando da parede onde estava aguardando e, apesar do tipo da resposta, não parecia ser exatamente uma ofensa para ele. Ele segue o passo com o jovem, atravessando o vilarejo enquanto conversavam.

- Se quer saber tanto minha opinião, acho que o Jarl se cansou de você jogado por aí e resolveu que está na hora de você contribuir para o Hov. Jord (Gaia) sabe que eu poderia não ter mais que ficar dando a teta para você sugar.... Ele mandou chamar o outro filhote também, o Godi estrangeiro. Voz-da-Noite deve estar com ele agora.

(Segue em Floresta)
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