(ALFHEIM) Alfbær - a vila dos vettir

“Definitivamente isso é outro reino..”

Pensa Sihtric tão logo faz a travessia e se ambienta com o cenário que surgia diante de seus olhos. Não estavam mais em uma montanha, mas sim em uma floresta e a noite era particularmente diferente alí. A chuva leve que caia lentamente também não condizia com o verão que experimentavam no Caern, de modo que teria de ver aquele mundo com olhares sem pré concepções. Admira toda aquela estrutura construída nas grandes arvores, suas escadarias, seus caminhos, e as pequenas janelas por um instante avaliador apenas para constatar que a vida parecia pouco empolgada durante aquela noite, salvo por uma única arvore que parecia reluzir entre as demais com sua luz e com o agradável cheiro de um assado. Concorda com Sigfrey dessa vez, ele era o homem certo para aquele trabalho porque, definitivamente, não queria os demais tropeçando por aí como trols antes que pudesse entender o que estava acontecendo. Se houvesse realmente uma armadilha, aquele emaranhado de casas seria um lugar perfeito para isso, e se não houvesse.. bem, um assado não faria mal pois não era como se tivessem ofertado algum banquete no Caern em honra aos filhotes que partiriam. Responde em voz baixa mas animada:

- Eu vou, fiquem atentos aqui e não chamem atenção.. minha garganta agradece. Um uivo para problemas, do contrário esperem um sinal mais brando e se juntem a mim.

Então olha para Uller e sugere de forma carismática:

- Se puder, irmão de todas as terras, veja como é a umbra e se os espíritos tem algo pra dizer. Não que você não fosse fazer isso mesmo, mas qualquer informação vai ajudar.

Sem mais, assume a forma lupina e segue furtivamente pelo emaranhado de caminhos naquela noite de chuva leve. A noite trazia novos cheiros ao lobo agora que havia assumido a nova forma e seus ouvidos captavam muito mais, de modo que todos seus instintos estavam em prontidão para as informações que o ambiente lhe traria em seu trajeto para a arvore iluminada.

Sihtric segue seu caminho furtivo com atenção, atento aos cheiros e sons que a noite pudesse lhe trazer, e a cada passo dada seu focinho captava mais e mais o suculento aroma da comida que estava sendo preparada, quase como um convite para se aproximar, e suas orelhas levantadas captam o ruído de vozes a conversar.

“O que quer que eles estejam fazendo, ou é muito bom ou eles querem muito que eu foque toda minha atenção ali.”

Podia sentir a tensão latejando tanto quanto podia sentir a própria curiosidade pulsando. Antes que se endereçasse a casa iluminada, no entanto, faz uma pausa silenciosa junto a alguma das casas que não possuíam luzes ou sons e tenta ao melhor de suas capacidades captar algum sinal de vida em seu interior, em seus arredores, ou até mesmo captar algumas das palavras que estavam sendo ditas e que o vento trazia aos ouvidos sensiveis de um lobo. O cenário inabitado, com exceção aquele único chamariz, o deixava incomodado.. mas não demoraria a saber.

Sem poder captar qualquer sinal de vida além dos que vinham da casa iluminada, Sihtric volta sua atenção em direção as luzes. Ainda assim, a percepção de abandono se torna ainda maior depois de constatar que toda aquela estrutura estava realmente abandonada.. isso significava que aquele lugar havia sido abandona ou algo pior. O Frísio havia passado a vida no mar, havia acompanhado Drakares e barcos mercantis o suficiente e sabia muito bem o que poderia acontecer com uma vila litorânea mal defendida.

“Morte entre as ondas..”

Era essa a visão que os moradores tinham ao perceber tardiamente a aproximação dos barcos com proa de dragão, que traziam como desfecho um fim rápido para os que tinham sorte, um agonizante para os que não tinham, ou os grilhões da escravidão para outros poucos que pudessem render força no remo ou boas moedas em mercados de escravos.

“Mas aqui? Tão distante de tudo?”

Parecia pouco provável, mas o que sabia de fato sobre Elfheim além do que já ouvira no passado em histórias? Afasta essas considerações para retomar sua jornada e se dirige furtivamente para a casa iluminada com cheiro de assado. Ao se aproximar, suas orelhas lupinas captam cada vez mais a voz dos que ali se encontravam, a ponto de ser possível entender que uma discussão ocorria lá dentro ainda que as palavras não fossem claras. O cheiro era forte agora.. maças? Sim, mas havia algo mais, algo mais sutil e doce.. talvez canela. Aquele cheiro era o suficiente para fazê-lo salivar. Se aproxima ainda mais e agora conseguia ver a marca de uma engrenagem marcada na madeira mas não havia como saber se o símbolo realmente significava alguma coisa a mais.. mas isso não importava agora, estava ao alcance da janela e, ao espiar discretamente, consegue apenas uma imagem difusa de dois vultos no interior da casa-arvore. O vidro era escuro demais e embaçava a visão, mas estava cada vez mais convencido de que aqueles ali não os esperavam para um ardil.

“Não assim.. não discutindo, acendendo luzes, e cozinhando como se a morte não estivesse à espreita..”

Se aproxima da porta com esse pensamento e tenta pressiona-la para ver se abriria mas ela estava efetivamente trancada. Já havia chegado até ali e não havia pressentido maiores riscos, em verdade, nem se sentia ameaçado, então era hora de realmente descobrir o que estava acontecendo sem expor os outros e concluir o que havia se destacado para fazer. Concentra seu instinto para deixar a forma de lobo e se muda para glabro, situação em que permanecia bastante parecido com sua imagem hominídea e apenas maior e mais forte. Então, como quem não quer nada, bate duas vezes na porta e aguarda para ver o que aconteceria.

Sihtric é atendido por uma figura devidamente estranha. Tinha o tamanho de um rapazinho mas tinha tanta barba quanto um adulto, era mais gordo do que deveria ser permitido a uma única criatura, e suas vestes chamavam mais atenção do que as de um artista de festival, mas cheirava bem, isso era inegável. O Frísio acha aquela criatura divertida e nem um pouco ameaçadora, mas o que mais lhe agradava era ouvir sua confusão sobre o meninos lobos que partiram.

“Eles estavam vivos quando saíram daqui..”

Escrutina o ambiente em que pretendia entrar para saber o que esperar e não vê nada além de uma cozinha que deveria ser pequena mas era grande. Aquilo definitivamente era magia de elfo, mas onde estava a segundo vulto? Aquilo o incomodava, sabia que algo estava fora do lugar. Antes que pudesse responder a figura peculiar, no entanto, ouve um uivo e sente a presença de um Garou se aproximando mais descuidadamente do que deveria. Olha para o hominídeo que se forma, ouve suas palavras, e muita coisa lhe fez sentido naquele mesmo instante.

“Mais fácil do que parecia.. os filhotes perdidos vivem, mas estão tão perdidos quanto o maldito nome sugere.”

Ao ouvir o nome de Sigurd, responde de maneira divertida, ligando o nome à pessoa imediatamente:

- É bom saber que você vive, porque Dane me falou para mijar na sua ossada caso te achasse morto e eu não bebi o suficiente pra mijar o tanto que o maldito Danes gostaria.

E não explica mais nada, porque se Sigurd havia sido treinado por Dane aquelas breves palavras seriam o suficiente para garantir tudo o que aquele Rotagar precisava saber. A criatura gorducha então os convida para entrar, e era evidente que Aliado de Sigurd pelo gesto tão imediato. Comenta com a criatura sem dar chance de negativa, mas com carisma evidente:

- Agradecemos a hospitalidade, eu tenho amigos que devem ouvir essa história e que vão gostar de sair da chuva porque os banhos são aos sábados. São todos homens lobo, claro, mas já comeram coisas piores que bolos sem reclamar.

Então se volta para o grupo que compunha sua matilha provisória, assobia alto, e fala em tom audível na noite:

- Se apressem ou vão perder uma história.

Entra na cozinha logo a pós Sigurd, não dando oportunidade para que a porta se fechasse para garantir que seus companheiros também entrariam. O filhote perdido não contaria aquela história sem sua presença. Enquanto a criatura gorda prepara as coisas, fica analisando as coisas que são ditas e descobre os nomes tanto do que estava ali quanto do segundo vulto que havia visto.. não tardaria a descobrir o resto, bastava aguardar.

Sihtric esperava que o nome de Garras-Sangrentas fosse suficiente para que o rotagar entendesse e, aparentemente, havia acontecido. Absorve a informação sobre a rapida movimentação da lua naquele local e considera que as peças estavam aos poucos se encaixando.  Responde num tom despreocupado:

- 12 ciclos completos da minha lua, quantos ciclos daqui? É um longo tempo, mas não o suficiente pra muito ter mudado por lá.. como você vai entender assim que os outros entrarem.

Então emenda:

- O que você faz com Brandt e com o tal do Favian? Tenho que ouvir o que for importante da história toda pra ajudar e você tem pressa.. eu não ligo se você cortar quantas vezes os outros cavaram buracos pra cagar ou não, deixa isso pros Skalds, mas me dê uma história pra trabalhar o apoio que você precisa.

Conforme os outros vão entrando, espera o infame Sigurd entender do que ele estava falando enquanto aproveita para responder o gorduxo que parecia muito habil com as comidas e com a recepção, o que fazia sentido dado seu estado corporal:

- O presunto me parece bom, já que você perguntou, e se tiver alguma coisa para beber que tenha alcool, mesmo que seja com mel ou amoras, você deixaria um lobo feliz. Você é um elfo, homem anfitrião?

Os demais companheiros de sua matilha provisória começam a chegar, uma apresentação é feita pelo Skald, e Sigfrey não demora a ser Sigfrey. Logo após o comentário maldoso Sihtric olha para Sigurd com uma cara de "agora você entendeu?", ele certamente entenderia. As comidas estavam sendo postas a mesa e o gorducho se declara um Boogan, seja lá o que isso fosse, mas não queria tomar o tempo da história e portanto não o pergunta naquele momento. Começa a comer o presunto enquanto aguarda tanto pelo vinho de mel quanto pelas explicações que estavam por vir.

Sihtric considera a má escolha de palavras do outro Rotagar que havia optado por ofender todos os garou daquela matilha provisória somente para atacar Sigfrey. Não havia gostado, mas tampouco estava interessado em perder seu tempo com isso, se dirige a Sigurd e comenta sem nem ao menos parar de comer, o tom de suas palavras  era de aviso:

- Não envolva de novo esse grupo todo em seus problemas familiares.

Então ouve a história contada e aquilo era um começo, embora ainda houvesse muito a ser dito. Pergunta com a mesma naturalidade de antes:

- E qual era a parte de vocês do acordo? E porque você é o unico que não caiu nesse tal feitiço?

Então fecha a porta da casa da arvore, conforme tinha sido solicitado pelo gorducho, e o pergunta:

- O tal Favian não vem com a porta aberta?

Morde mais de seu presunto enquanto aguarda.